Diário de Viagem 2009 – Tímido e dependente


Descobri que sou tímido e dependente.

Ok, vamos clarear a coisa. Tímido eu sempre fui. Me descobri ainda mais. E me descobri paradoxal – que grande descoberta, hein? Sou tímido em qualquer situação normal: para pedir informações na rua, para perguntar algo pra um desconhecido, para pedir um aumento, para convidar uma guria para sair. Super tímido. Mega tímido. Demoro, penso, repenso, planejo, replanejo, imagino, imagino, imagino, até criar coragem. Algumas vezes, a coragem só aparece quando não adianta mais. O paradoxo é que me transformo em situações onde eu deveria ser ainda mais tímido. Findo o congresso, fiquei pensando: meu inglês não estava dos piores (também não estava 100%), me virei bem. Defendi o artigo contra os poucos ataques recebidos. E defendi bem, com segurança. Lembrei-me da sala de aula e do primeiro dia de aula: nervoso, tremendo e tudo mais e, de repente, ao adentrar a sala, sou outra pessoa: seguro, confiante, com domínio da situação, gestos calculados para atingir a um efeito, frio. Sim, chego a ser frio. Quando tentaram me assaltar uma vez em Sampa, foi assim também. Tive tanto domínio da situação, dos gestos, que já tinha até mudado a posição com o assaltante e poderia joga-lo barranco abaixo se quisesse. No fim, o cara me disse “vai embora que você é gente boa”. Calculista.

Mas na vida real sou tímido. E dependente. Dependente eu nem sempre fui – ao contrário da timidez. Dependente eu me tornei. Por alguma razão que ainda não entendo, deixei-me depender. Acho que um pouco tem a ver com essa coisa do “trabalho em grupo”. Sempre fui de fazer tudo sozinho, dava super certo e eu estava feliz. Mas sempre ouvia: você tem que aprender a trabalhar em grupo. A forma que encontrei para trabalhar em grupo foi essa: deixar que outros façam. Funciona também – nem sempre tão bem. Mas nessa de deixar outros “participarem”, passei a deixar que fizessem por mim. E isso não é bom. Não para mim. Lembro que quando trabalhei no Itau, não decorava nenhuma rotina mais específica. Sequer anotava: simplesmente copiava da Celina, sempre muito cordada nesse aspecto. E isso está ficando chato. Qualquer coisa que preciso, peço para alguém fazer, mesmo tendo plena condição de faze-lo por mim mesmo. É péssimo!

E daí, dirão alguns? Que isso tem a ver com a viagem? Cara! Tem tudo a ver! Me tornei tão dependente que precisei que alguém me indicasse exatamente qual hotel eu deveria pegar. Isso na última semana em São Paulo. Eu simplesmente não conseguia me decidir. O problema é que só fiz isso para a etapa Barcelona 1 da coisa. Depois, não sabia para onde iria. Outra pessoa teve que me pegar na mão e dizer: reserve este em Roma. E depois? Depois, oras, eu estava por mim mesmo, sem conexão com ninguém em quem confiasse e pudesse me indicar qualquer coisa. Resultado: me desesperei. Não sabia mais o que fazer, até que comprei uma passagem para Pisa sem ter, sequer, onde ficar. Simplesmente não conseguia decidir. Novamente, dependi de pessoas longe, incomodei-as, irritei-as com minhas manias e ainda exigi delas aquilo que não lhes era devido. O resultado, contarei depois, das minhas desventuras em Pisa, onde descobri que sou dependente, também, da tecnologia.

Preciso trabalhar isso urgente! E já comecei.

12 comentários sobre “Diário de Viagem 2009 – Tímido e dependente

  1. Pingback: Diário de Viagem – O Terminal « Na Toca da Cobra

  2. o problema não é ser dependente… isto todos somos…

    o problema é saber o limite entre independência e inconsequência…

  3. Começa vendo que dependemos de Deus, mas muitas vezes tomamos a decisão e vamos em frente e depois que percebemos (e que bom que ainda percebemos) que somos totalmente dependentes. Somos dependentes de pessoas, de coisas e etc …
    O importante pe reconhecermos isso e não deixarmos isso tirar a nossa paz.
    Bjks

    • Mãe, o meu problema é ter me tornado dependente além do que é devido. Depender de Deus é correto. Deixar de fazer os cálculos não é.

      “Qual de vocês, se quiser construir uma torre, primeiro não se assenta e calcula o preço, para ver se tem dinheiro suficiente para completá-la? Pois, se lançar o alicerce e não for capaz de terminá-la, todos os que a virem rirão dele, dizendo: ‘Este homem começou a construir e não foi capaz de terminar’.” (Lc. 14:29-30)

  4. muito feliz de ver q além de conhecer lugares lindos, vc está aprendendo tanto em poucos dias… beijo primo

  5. Nossa branquelo… meu sonho e ir pra Italia, de longe ja sou apaixonada por ela… vou roubar todas as suas fotos
    Bacci Fratello

  6. Que bom Ju!!
    Fico mt feliz em ver que estas se “conhecendo” e melhorando cada vez mais!
    Precisamos das dificuldades para reconhcer coisas que as pessoas nos dizem e nao percebemos…Só tendemos a crescer!
    Saiba que tem todo meu apoio, exceto “chamar gurias para sair”!!(nao poderia deixar escapar…)=P

  7. ha ha ha
    Engraçadinho!! Olha…é ate de se pensar, fofo!!
    Pq me da o direito de convidar guris tambem, e é obvio que nao pediria sua ajuda…hehehhehee
    Vamos conversar???
    =P

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