Hoje é meu aniversário! Acabo de acordar depois de cair na cama exausto. Dormi com a roupa que estava, celular na mão, do jeito que cheguei ao quarto. E acho que é isso que querem saber agora: que quarto? Então deixo para falar do meu aniversário depois e vou falar da noite de ontem, dia 09 de Julho.
Não sabia bem o que fazer quando o safado do cara do albergue me devolveu o dinheiro da reserva. Peguei aquelas moedas sem acreditar muito no que estava acontecendo: eu estava em uma pequena cidade de um país estranho que fala uma língua que não domino – sequer consigo compreender facilmente – e são quase meia-noite. O cara até ligou pra outros albergues e não conseguiu nada. No fim, descobriu um hotel que cobrava o dobro do valor e eu deveria sair até as 10:00 da manhã. Achei absurdo! Não pelo valor: cheguei a pagar mais em Barcelona, mas pela atitude sem vergonha! Quando eu falei que ia voltar para a estação, o safado nem pra se prestar a me dar uma carona (ele tinha acabado de buscar uma guria lá). Mafioso!
Sem saber o que fazer, mandei algumas mensagens. Mandei SMS para a Elizabeth e para o Andrea perguntando se tinham idéia de algum lugar para eu ficar. Mandei para a Deby, em Sampa, avisando do infortúnio e confesso ter ficado ainda mais irritado. Elizabeth tentou alguns amigos, mas não havia lugar para dormir. A Deby perguntou do dinheiro pago pela reserva – a fim de saber se nem isso era garantia mais – mas, nervoso como estava, entendi isso como uma preocupação com a grana e não comigo. Parei de responder as mensagens.
Uma vez em Pisa, já contando que a minha “festa” de aniversário em frente à torre tinha ido pro espaço, fui até a praça, carregando a mochila e a mala e tirei algumas fotos. Ao menos teria as fotos da torre a noite como “presente”. Na torre, alguns jovens ainda tiravam fotos, outros bebiam. Um casal me pediu que tirasse algumas fotos deles. Foi difícil conversar a princípio: ele quase não falava, ela falava demais, mas não entendia inglês direito. Quem raios você são? Perguntei de onde eram. O rapaz disse que era inglês e aparentemente não sabia de onde era a moça. Muito estranho. Perguntei a ela. Resposta: “I’m from Brazil”. C’mon, man! Atravesso o oceano para topar com brasileiros em todas as cidades por onde passei!!! Tirei algumas fotos deles – agora com uma comunicação mais fácil. Ela era de Recife, mas morava em Amsterdã. Não perguntei muito mais que isso. A moça quis tirar uma foto comigo – virei atração turística na terra da torre torta – e me perguntou o que fazia ali naquele horário – certamente após ver a mala ao meu lado. Contei a história. É engraçado. Ela tentou me ajudar. Disse que não sabia se tinh vaga no hotel em que estavam, que o hotel era ruim mas poderia me levar até lá. Agradeci, mas já tinha me conscientizado a ir pra estação, dormir por lá até o primeiro trem para qualquer lugar e partir.
Tomei rumo pelas ruas da cidade de volta à estação ferroviária. É gostoso andar pelas cidades a noite na Europa. A sensação de tranquilidade e segurança são notórias. Tirei algumas fotos, mas estava realmente triste. As fotos, por mais lindas que fossem sob uma lua cheia de um céu limpo, não me animavam.
Próximo à pontezinha – aquela – recebi uma mensagem do Andrea: Daniele encontrou um hotel para mim! Ele disse que me encontraria na ponte e, já que eu estava lá perto, aguardei. Tirei mais fotos (lindas fotos) daquele simpático riozinho. De repente, ele ficou mais bonito. Andrea me encontrou e pediu que esperassemos por Daniele, que viria com a confirmação – ou não – da vaga no hotel. Ele lamentou muito tudo aquilo, pediu desculpas pela cidade. Eu realmente não culpava a cidade, nem poderia. Safados há na Itália, no Japão ou no Brasil. Mas eles, por alguma razão, se sentiam muito mal com tudo aquilo.
Ao chegar, Daniele estava chateada: não havia mais vagas lá. Eu disse que estava tudo bem, que iria para a estação numa boa. Eles pediram que eu fosse com eles ver outro hotel – bem mais caro. Eu disse que não, que era o dobro do valor que eu iria pagar e tudo mais, mas insistiram. Daniele pegou minha mala e saiu andando. Simples assim. Perguntaram se eu tinha comido. Quase não comi na viagem, ainda mais numa situação dessas. É estranho: ao contrário da maioria das pessoas, quando estou ansioso perco o apetite. Tenho fome, meu estômago chega a roncar, mas não consigo comer. Andrea me comprou um kebab. Não foi abuso, eu estava com o dinheiro na mão para pagar e ele mandou que eu guardasse. Caramba, o que estava acontecendo??? Eles disseram que era meu presente de aniversário. Poxa, mas nem me conheciam! Daniele disse que se eles estivessem em São Paulo e acontecesse isso, o que eu faria? Já os havia convidado a conhecer Sampa e pensei na situação. Ok, opções de hotel em São Paulo não faltam, mas imaginei eles sozinhos a meia-noite na Grande Cidade sem falar português. Deu medo. Aceitei o kebab.
No caminho ao hotel, eles disseram que já que o hotel era o dobro, eles pagariam metade – como presente de aniversário. Que eles queriam que eu tivesse um boa estada na cidade deles e que não levasse má impressão. Disse que não, que eu podia pagar e tudo mais. Nem me deram chance de discutir. Realmente eu não tinha uma má impressão de Pisa. Nem da Itália – apesar de alguns enrolões. Não tinha jeito de discutir com o simpático e prestativo casal de italianos. Resolvi deixar a coisa correr.
No hotel, sem pestanejar, Daniele saca a carteira e paga a diária… toda! Eu queria bater nos dois! Mas eles faziam aquilo com alegria, não dava pra discutir. Estavam realmente felizes em ajudar. Me levaram até o quarto – Andrea carregando minha mala. E só me deixaram quando eu estava instalado. Foi fantástico!!! Deram-me um abraço de feliz aniversário e fiquei muito feliz.
Dormi como um bebe. Sequer troquei de roupa. Do jeito que sentei na cama, caí pro lado e dormi – uma das noites mais tranquilas da minha viagem. No dia seguinte, mandaram-me mensagens de feliz aniversário, perguntaram como fora minha noite e me desejaram uma boa viagem para Firenze (Florença). Não puderam me encontrar, pois estavam trabalhando naquela sexta-feira de manhã.
Me arrependo de não ter tirado uma foto com eles. Espero que tenhamos outra oportunidade. De alguma maneira, acho que teremos.
Realmente são dois anjos que apareceram pra te ajudar heim??? Agora entendi a dos “dois anjos”, rs
E você os conhece só pela Internet???
Parece que em Barcelona a Lu também tinha uma amiga, hehe
Beijocas e ainda com saudades ………….
Eu não os conhecia nem da Internet. Os conheci ali, no caminho para o albergue. Muito de Deus!
Caramba!!Que funçao né!!
Acho que todos sofremos juntos nesse dia…E ainda ficou sem os videos que fizemos! =(
“Função” é muito gíria de malandro, hein! Com quem você anda, dona guria?
Ah, quero os vídeos no meu e-mail!!
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