Estou devendo, desde a viagem do ano passado, contar para vocês como cheguei até aqui. Bem… continuarei devendo, ao menos por mais alguns dias. O que vou contar-lhes hoje não é sobre o como cheguei, mas sobre como quase não cheguei. Não acredito em destino ou pré-destino, mas acredito em escolhas, em causas e em conseqüências e, em um passado recente, eu fiz uma escolha que me impediria de estar aqui.
Sem grandes detalhes – ao menos por hora – em 2005, após a separação, superei bem as primeiras semanas, que acreditava serem as mais difíceis. Eu realmente estava bem. Realmente, eu disse? Sei… eu só percebi que “realmente” a realidade era outra quando notei – e dou graças a Deus por ter notado – os primeiros sinais de depressão. Aos 26 anos – 8 anos após ter caído de cama por duas semanas em função de uma meningite causada por stress – peguei-me virando noites – e dias – em claro, sem sair de casa, sem comer, sem sair do quarto. Não tinha vontade de trabalhar, não tinha paixões, vazio. Essa, talvez, seja a melhor descrição: sentia-me vazio e não queria mudar isso, não sentia vontade de estar diferente. E a maioria de vocês está sabendo disso pela primeira vez. Quase todos, provavelmente. Era um jovem de menos de 30 anos, recém separado, já acometido de uma doença nervosa anos antes e, agora, com princípio de depressão. Não sou coitado e não quero ser visto assim. Sou um mané.
Mas eu tinha amigos. E amigos improváveis, impossíveis para alguns. Amigos que seriam julgados más companhias, mas que estavam junto. Não são pessoas que me deram apoio para ir em frente e tudo mais, são pessoas que me deram suporte – sim, me suportaram – para não ceder, não largar tudo. Sem melindres – e reconhecendo que outras pessoas também tiveram muito valor – esse capítulo da viagem é para quatro deles, desses amigos que conheci, literalmente, por inveja. É sério! O primeiro dos quatro, o Ale, eu conheci no ‘Jogo da Inveja’, numa comunidade do Orkut, onde, inclusive, achavam que ele era um perfil meu. Depois vieram a Mara, o Luis e a Van. São os quatro nomes deste capítulo. Eram eles quem me tiravam da toca – as vezes as 3:00 da manhã – para… almoçar. Eu me esquecia de comer. Parece impossível, mas é o que acontecia. E essas quatro pessoinhas me lembravam disso. Aliás, cabe lembrar que o nome deste blog – Na Toca da Cobra – vem desse apelido que a Mara deu ao meu apartamento na época.
Sem me estender mais – o texto já está bastante longo – essas quatro pessoas são alguns dos culpados por eu estar aqui hoje, saboreando meu almoço nesta tarde quente e um pouco nublada de Madrid.
E, enquanto escrevo estas palavras, com olhos marejados no centro da capital espanhola, meu coração se enche de gratidão por esses amigos que me impediram de sabotar meus sonhos. Para ser amigo, é preciso estar junto, e eles sabem disso. E estar junto não tem a ver com estar perto, mas com caminhar junto e suportar na hora que você é a pior companhia do mundo. E eles sabem do que estou falando. E antes que alguém julgue errado: não, não foram as pessoas mais importantes nesse processo. Mas foram as pessoas que me aturaram numa das fases mais complicadas que tive e sou grato por isso.
Ricardo Gondim disse recentemente que os amigos tornam a vida necessária. Os meus a tornaram possível.