Always welcome Home, House

O amigo ama em todo o tempo; e para a angústia nasce o irmão.
Provérbios 17:17


Nessa semana a Universal Channel apresentou o último episódio da série House (ao menos em terras tupiniquins, já que estávamos com 4 semanas de defasagem em relação ao original nos EUA).
Que sou mega fã da série, não é segredo. Que me identifico (muito), não é surpresa. Junto com 24 Horas, foi a série que acompanhei inteira: em ambas, chegava da aula correndo (às terças, na primeira; às quintas na segunda) para assistir.

Também tenho uma teoria sobre a bondade de House há alguns anos, mas falo disso em outro post, outra hora. Agora, o último episódio.

Num primeiro momento, decepção, conforme relatei no Twitter ontem:

Ok, o último episódio de #House não ficou a altura da série: começou bem, perdeu fôlego e terminou…so, so…
Mas, valeu, Hugh Laurie! Trouxe a vida um dos mais complexos, integrantes e divertidos personagens.

Uma série para lembrar.

Hoje, porém, acordei pensando nisso (sim, fã tem dessas coisas) e cheguei à conclusão que aquilo que parecia “simples demais” era, na verdade, a resposta mais direta e reta, mais irônica e sagaz, ao melhor estilo House de ser

Acordei pensando exatamente isso: ele foi egoísta ao extremo por oito anos. Quando foi sua vez de ser altruísta, foi o mais extremo possível também: deu sua vida pelo amigo. Ao extremo.

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House

Ele ferrou com seu próprio futuro, com seus relacionamentos, abriu mão de seus enigmas (sua verdadeira paixão), sua identidade, para retribuir – da forma mais intensa possível – uma amizade verdadeira. Sem ressalvas, sem condições. Foi além do tradicional “dar a vida” que falamos significando “morrer por”. Ele realmente “deu” a vida “ao” amigo (e não “pelo” amigo).

E quando Wilson o questiona, dizendo que ele nunca mais poderá voltar a ser quem era, a resposta é um sonoro (na prática) “sem sua amizade, eu não seria mesmo”:

“Como você quer passar seus últimos cinco meses?” (House)

Mural das Lamentações

Há uma espécie de prazer na lamentação, e maior do que aquilo que se pensa.
Marie Sévigné


Em épocas de microposts (leia Twitter) e redes sociais, todo mundo é um pouco poeta. E como todo bom poeta, todo mundo é um pouco sofredor. Nada demais, na verdade. Nada que não seja a vida cotidiana, o dia a dia, aquela lamentaçãozinha básica na fila do caixa do supermercado reclamando da demora, do tempo, do preço do detergente líquido.

ETZEV SHEL ISRAEL

O que tem me incomodado bastante, porém, é a adoração pública dedicada a esse tipo de prática. No Twitter, Facebook, Orkut, na tagline do MSN, muitas pessoas tem dedicado suas línguas – ou dedinhos, nesse caso – a externalizar a dor. Não obstante a dor, mas o sofrimento e, principalmente, a lamentação. Coisas dóem, mas ninguém quer ouvir um discurso quando leh cumprimenta com um frio e distante “bom dia”. Pessoas transformam o Mural do Facebook ou a timeline do Twitter em Muro das Lamentações e ficam batendo suas cabeças na mesma dor durante dias, semanas, esperando que ela pare de doer. Não vai parar.

Essa cultuação pública do sofrimento, infelizmente, não é uma causa, mas um sintoma. Uma sociedade doente, sente dores e isso não é novidade. A raiz, porém, está no culto à dor como forma de tentar superá-la (e, sim, eu acredito na sinceridade das pessoas que tentam superar a dor). Acaba-se por criar, nesses casos, uma situação de busca de necessidade e atenção: grande parte desses lamentos são “dirigidos” a uma ou outra pessoa, uma forma de tentar atingí-la com a própria dor. Isso funciona? Não acredito.

Lamentar algo que aconteceu, ainda que nas redes sociais virtuais, é natural, é normal, é compreensível. Vez ou outra, entre júbilos, conquistas, derrotas e marteladas no dedão, externamos sentimentos os mais variados e, inclusive, lamentações. Transformar o sofrimento na sua única faceta visível é triste, aumenta a dor… e é chato pra caramba.

O mundo inteiro não precisa saber da dor crônica que sentimos ao acordar. Ainda que esta seja no coração. Para esses casos, o ombro de um amigo é um remédio muito mais eficaz.


Lamentos são um desperdício de tempo. Eles são o passad minando o presente.
Katherine – Fala do filme Sob o Sol da Toscana

Melhor é impossível

Costumo dizer que pessoas não mudam. Mentira, quem diz isso é o House M.D. Ou não… eu já dizia isso antes de começar a assiti-lo. Bah, fato é que acredito que pessoas não mudam. Ou quase.

Ainda não postei aqui minha teoria da Princesa e do Sapo (o post está quase pronto, sairá em breve), mas acredito que homens mudem menos que mulheres. Menos? Mas eu não disse que não mudam? Não! Eu disse “quase”. Não acredito – de verdade – que pessoas mudem pelas outras “Ah, ele vai mudar por mim”, vai nada! Ele só vai mudar quando acreditar que aquilo será melhor para ele. Simples – e frio – desse jeito.

Helen Hunt e Jack Nicholson em "Melhor é impossível"

O mundo, então, se torna uma terra de intolerantes e sem salvação. Mas… calma lá, não é bem assim. Há uma frase que muito aprecio sobre isso, que foi dita pelo personagem do Jack Nicholson em “Melhor Impossível“. É algo bárbaro! Ao ser questionado acerca do porquê ele gostaria de ficar com a personagem vivida por Helen Hunt, após muito enrolar, ele diz que ela o fazia “querer ser melhor“.

Isso é mágico!! Eu me arrepio em pensar nessa frase e queria compartilhar com vocês a profundidade disso. Ela reforça o que penso: pessoas mudam por si mesmas, não pelos outros. E a definição que ele deu diz isso: “Eu quero ser melhor“. Mas acrescenta o elemento mágico, o catalisador da mudança: “Você me faz querer isso“. Reparem: em nenhum momento ele diz que faz isso “por ela”. Ele faz “por ele”! A mágica está aí: ela o faz querer isso.

Isso é mudança de verdade. E, para um cético e admirador da alma humana, é o caminho mais real.

Futuro do pretérito

“O futuro é uma ressignificação do passado”

Foi com essa frase que abri uma breve conversa no Facebook nesses dias. 7 “curtir” depois, achei que seria legal explicar aqui.

Estudo sensemaking e storytelling. Me apaixonei por esses temas (por indicação de meu orientador e amigo, Mário Aquino) e venho trabalhando isso desde 2007. Bem, são assuntos que também podem ser explorados fora do ambiente organizacional. Aliás, para ser mais exato, ambos os temas nascem fora desse ambiente, vêm da vida real. E aí nasce, também, a frase que postei.

Futuro do pretérito

Quem me acompanha neste espaço sabe que há dois temas que me interessam muito aqui: política e relacionamentos. Este segundo me interessa por curiosidade, sou um curioso do que é humano. É intrigante e assustador tentar entender o ser humano, seus pensamentos, sentimentos. E, penso, que é também impossível qualquer generalização.

Prólogo feito, o que disse – de fato – com aquela frase? Sempre digo que somos a nossa história, o que vivemos, passamos, forma o que somos hoje. E o que vivemos hoje, nos transformará no que seremos amanhã. O que seremos amanhã é a reinterpretação do que somos hoje, com novos olhos, com velhos olhos.

O que somos, o que fomos, o que seremos são apenas a mesma coisa que somos hoje, um dia a mais, um dia apenas.

Apenas o que somos.

Qualidades e defeitos… mesmo?

Um dos meus textos preferidos neste blog – provavelmente o preferido – é Amor e Respeito, onde aponto porque acredito que amor é uma decisão, não um sentimento. Mesmo sendo um dos textos mais comentados, não é, necessariamente, o texto mais “concordado”. E é natural, não espero mesmo que todos concordem. Acho até bem chato se assim o fosse. Mas esse texto – e minha forma de enxergar a questão – normalmente leva a outras discussões correlatas, e uma delas envolve a questão das qualidades e defeitos.

Algo que muitas vezes falo é que não gosto de olhar a questão como “qualidades e defeitos”, como contraposições que tornariam a pessoa melhor ou pior. Penso que pessoas tem características (que outrora foram chamadas de qualidades, ou “qualificações”, aquilo que as caracteriza). E essas características podem ser boas ou ruins para mim, ou para você, de acordo – ora, vejam – com as suas próprias características. Darei um exemplo extremo: imagine que o João tenha um problema com uma glândula e tenha, portanto, um suor muito fedido. Isso seria um defeito (e sem politicamente correto nesse blog, ok?). Mas, imagine que a Maria tenha outro defeito: ela não sente cheiros. Puxa, aquilo que, precipitadamente, chamamos “defeitos” se torna, para Maria e João, algo indiferente. Não, não se tornaram boas qualidades, se tornaram apenas características irrelevantes.

João e Maria, claro, não existem (ou existem nas histórias de bruxas), mas nós existimos. Não gosto de baladas. Não acho que isso seja um crime, apenas não gosto. Na verdade – precipitadamente – até considerava isso uma qualidade em si. Mas nos meus dois relacionamentos anteriores, isso se transformou em um “defeito”, pois eu era o cara caseiro, que preferia ver um filme com pipoca, ir a um restaurante, a ir dançar a noite inteira. E por que isso? Pois me relacionei com mulheres que consideravam isso um defeito, visto que elas gostavam de sair pra dançar a noite toda. E quem está errado? Oras, que mania de achar que alguém está errado. Ninguém estava errado por isso. Era apenas uma combinação ruim de característica. Sem culpados.

O que, então, penso sobre isso? Que não importam defeitos ou qualidades das pessoas, mas importa mesmo como essas características vão se relacionar com as suas próprias características. Sim, os “defeitos” do outro estão muito mais relacionados aos nossos do que imaginamos.

No fim, isso está relacionado à questão da admiração que coloco no texto Amor e Respeito.


PS: Um detalhe, eu tenho milhões de defeitos (sim, defeitos mesmo). Individualmente, coisas que me atrapalham a vida, que me criam dificuldades, barreiras. O texto, porém, não fala disso, mas de relacionamentos.

Para desabafar

É difícil ser ouvido. Ser apenas o ombro, e não o dedo que acusa. Há tempos sou bom em conversar, alguns gostam dos meus conselhos, mas demorei aprender a ouvir. Lembro bem do episódio, em 2001, quando levei meu ex-sogro ao hospital e fiquei lá fora aguardando com sua esposa. Ela começou a conversar, e a se abrir acerca de coisas que nunca me imaginei em situação para ouvir. Julguei que deveria dizer algo, aconselhar, sei lá. Julguei errado. Destruí a ponte que se formava por tentar atravessá-la antes do tempo. Mas eu não percebi isso na hora. Foi minha ex-posa quem me alertou, na verdade, quem me deu uma bronca por isso, e ela me disse exatamente isso: você precisa aprender a ouvir.

A lição não foi aprendida de imediato, mas desde então venho atentando para esse ponto. E, acreditem, é difícil ouvir. Recentemente vi isso muito claramente, ao postar um pensamento meu em meu Facebook. Falando de algo pessoal, um desabafo mais para mim do que para os outros, disse que meu maior problema era eu mesmo. Além do sentido específico da frase – e não coube explicação no momento, como não caberá agora – havia um sentido mais amplo: realmente creio que quem mais nos atrapalha somos nós mesmos. Da mesma forma que considero nós mesmos nossa maior fonte de sucesso. Em bom português: somos os maiores responsáveis pelo que acontece conosco. Simples e direto, é o que penso. Qual não foi minha surpresa, porém, ao ver que duas pessoas que conheço e que se dispõem a trabalhar ouvindo pessoas (quem lê, entenda) virem interpretar e julgar minha frase como um defeito ou qualquer coisa que o valha. Uma delas chegou ao extremo de sugerir terapia. Aliás, ambas o fizeram. Nem entrarei no mérito da terapia em si, mas na agressividade com que abordaram… um desabafo!

Assustou-me o fato de serem quem são, mas não me surpreendeu o fato em si: raros são os que, de fato, sabem ouvir. E ouvir não inclui falar. Nesses casos, ouvir fala por si só.

Colored People

Que mania de achar que cor de pele torna alguém melhor ou pior! Daqui a pouco a patrulha do politicamente correto vai dizer que a cor do olho torna alguém melhor ou pior que outros. Ops… o Lula já fez isso! Que coisa aborrecida…

A revista Caros Amigos, como parte da imprensa (que a esquedoente chama de “mídia”), distorceu um discuros do sen. Demóstenes sobre o assunto numa clara tentativa de demonizar (sim, com trocadilho feito por eles) o senador do partido que expulsou seus mensaleiros (ao contrário do que fez o PT, que os exaltou a líderes da campanha da mãe do Chuck). Vale ler lá (mas use camisinha… aquilo é sujo).

Por que não pegarmos os dados de evolução histórica da participação do negro na economia para verificarmos se está ou não aumentando como um processo social natural, e não como uma cassação de direitos de alguém por ser branco para dar a alguém por ser negro?

Se, hoje, 23% dos estudantes são negros, há 10 anos esse número era menor. E daqui a 10 anos provavelmente será maior. E assim deve ser! Isso chama-se conquista!

Ao invés de se preocupar com a cor da pele de alguém, deveriamos nos preocupar em erradicar a pobreza, o analfabetismo, aumentar a média de leitura do brasileiro. Pouco me importa a cor da pele, da calça ou da cueca. Quero é poder sentar num café para discutir em alto nível com pessoas inteligentes e preparadas. Negro, branco, rosa, verde? Que me importa??? Me importa o que vai abaixo da pele. Dentro.

O Contrasenso do Consenso

É comum ouvir pessoas falando de uma tal “solução de consenso”. É um discurso bonito, amigável, mas pouco prático. Sim, pouco prático e explico.

Sou um cara que gosta de conversa e discussão. Discussão não é briga, é argumentação. Gosto de ter minhas idéias contestadas – e isso não significa que eu vá ou não mudar opinião. Significa que gosto do desafio da argumentação.

A argumentação, ao contrário do que dizem alguns, não visa buscar o consenso ou meio termo. Isso chama negociação. A argumentação serve para: convencer alguém; ou chegar à melhor solução.

E a melhor solução quase nunca tem a ver com consenso. E nem com certo ou errado. Tem a ver com entender o problema e buscar resolvê-lo. Exemplo: Se um quer azul e outro quer vermelho, o consenso é o roxo. Em outras palavras: o consenso não agrada a ninguém totalmente. Não digo que um verde não possa ser a melhor solução, mas só será se agradar a ambos os negociadores. E é isso que somos: negociadores. Mas para negociar, tem que argumentar.

Para fechar: ceder é diferente de consenso. E muitas vezes, melhor. Imagine um casal. Ou melhor, dois casais. O primeiro sempre age por consenso: nunca é aquilo que um ou outro deseja. Já o segundo trabalha com concessões: um cede uma vez e faz a vontade do outro, e na vez seguinte, inverte.

Qual vocês acreditam que se dará melhor? Não, não vou responder. Quero a opinião de vocês para isso. O que acham?

Diário de Viagem 2009 – Anjos e Demônios

2009-07-08 - Itália - Roma (101)

Hoje é meu aniversário! Acabo de acordar depois de cair na cama exausto. Dormi com a roupa que estava, celular na mão, do jeito que cheguei ao quarto. E acho que é isso que querem saber agora: que quarto? Então deixo para falar do meu aniversário depois e vou falar da noite de ontem, dia 09 de Julho.

Não sabia bem o que fazer quando o safado do cara do albergue me devolveu o dinheiro da reserva. Peguei aquelas moedas sem acreditar muito no que estava acontecendo: eu estava em uma pequena cidade de um país estranho que fala uma língua que não domino – sequer consigo compreender facilmente – e são quase meia-noite. O cara até ligou pra outros albergues e não conseguiu nada. No fim, descobriu um hotel que cobrava o dobro do valor e eu deveria sair até as 10:00 da manhã. Achei absurdo! Não pelo valor: cheguei a pagar mais em Barcelona, mas pela atitude sem vergonha! Quando eu falei que ia voltar para a estação, o safado nem pra se prestar a me dar uma carona (ele tinha acabado de buscar uma guria lá). Mafioso!

Sem saber o que fazer, mandei algumas mensagens. Mandei SMS para a Elizabeth e para o Andrea perguntando se tinham idéia de algum lugar para eu ficar. Mandei para a Deby, em Sampa, avisando do infortúnio e confesso ter ficado ainda mais irritado. Elizabeth tentou alguns amigos, mas não havia lugar para dormir. A Deby perguntou do dinheiro pago pela reserva – a fim de saber se nem isso era garantia mais – mas, nervoso como estava, entendi isso como uma preocupação com a grana e não comigo. Parei de responder as mensagens.

Uma vez em Pisa, já contando que a minha “festa” de aniversário em frente à torre tinha ido pro espaço, fui até a praça, carregando a mochila e a mala e tirei algumas fotos. Ao menos teria as fotos da torre a noite como “presente”. Na torre, alguns jovens ainda tiravam fotos, outros bebiam. Um casal me pediu que tirasse algumas fotos deles. Foi difícil conversar a princípio: ele quase não falava, ela falava demais, mas não entendia inglês direito. Quem raios você são? Perguntei de onde eram. O rapaz disse que era inglês e aparentemente não sabia de onde era a moça. Muito estranho. Perguntei a ela. Resposta: “I’m from Brazil”. C’mon, man! Atravesso o oceano para topar com brasileiros em todas as cidades por onde passei!!! Tirei algumas fotos deles – agora com uma comunicação mais fácil. Ela era de Recife, mas morava em Amsterdã. Não perguntei muito mais que isso. A moça quis tirar uma foto comigo – virei atração turística na terra da torre torta – e me perguntou o que fazia ali naquele horário – certamente após ver a mala ao meu lado. Contei a história. É engraçado. Ela tentou me ajudar. Disse que não sabia se tinh vaga no hotel em que estavam, que o hotel era ruim mas poderia me levar até lá. Agradeci, mas já tinha me conscientizado a ir pra estação, dormir por lá até o primeiro trem para qualquer lugar e partir.

Tomei rumo pelas ruas da cidade de volta à estação ferroviária. É gostoso andar pelas cidades a noite na Europa. A sensação de tranquilidade e segurança são notórias. Tirei algumas fotos, mas estava realmente triste. As fotos, por mais lindas que fossem sob uma lua cheia de um céu limpo, não me animavam.

Próximo à pontezinha – aquela – recebi uma mensagem do Andrea: Daniele encontrou um hotel para mim! Ele disse que me encontraria na ponte e, já que eu estava lá perto, aguardei. Tirei mais fotos (lindas fotos) daquele simpático 2009-07-10 - Itália (2)riozinho. De repente, ele ficou mais bonito. Andrea me encontrou e pediu que esperassemos por Daniele, que viria com a confirmação – ou não – da vaga no hotel. Ele lamentou muito tudo aquilo, pediu desculpas pela cidade. Eu realmente não culpava a cidade, nem poderia. Safados há na Itália, no Japão ou no Brasil. Mas eles, por alguma razão, se sentiam muito mal com tudo aquilo.

Ao chegar, Daniele estava chateada: não havia mais vagas lá. Eu disse que estava tudo bem, que iria para a estação numa boa. Eles pediram que eu fosse com eles ver outro hotel – bem mais caro. Eu disse que não, que era o dobro do valor que eu iria pagar e tudo mais, mas insistiram. Daniele pegou minha mala e saiu andando. Simples assim. Perguntaram se eu tinha comido. Quase não comi na viagem, ainda mais numa situação dessas. É estranho: ao contrário da maioria das pessoas, quando estou ansioso perco o apetite. Tenho fome, meu estômago chega a roncar, mas não consigo comer. Andrea me comprou um kebab. Não foi abuso, eu estava com o dinheiro na mão para pagar e ele mandou que eu guardasse. Caramba, o que estava acontecendo??? Eles disseram que era meu presente de aniversário. Poxa, mas nem me conheciam! Daniele disse que se eles estivessem em São Paulo e acontecesse isso, o que eu faria? Já os havia convidado a conhecer Sampa e pensei na situação. Ok, opções de hotel em São Paulo não faltam, mas imaginei eles sozinhos a meia-noite na Grande Cidade sem falar português. Deu medo. Aceitei o kebab.

No caminho ao hotel, eles disseram que já que o hotel era o dobro, eles pagariam metade – como presente de aniversário. Que eles queriam que eu tivesse um boa estada na cidade deles e que não levasse má impressão. Disse que não, que eu podia pagar e tudo mais. Nem me deram chance de discutir. Realmente eu não tinha uma má impressão de Pisa. Nem da Itália – apesar de alguns enrolões. Não tinha jeito de discutir com o simpático e prestativo casal de italianos. Resolvi deixar a coisa correr.

2009-07-10 - Itália (6)No hotel, sem pestanejar, Daniele saca a carteira e paga a diária… toda! Eu queria bater nos dois! Mas eles faziam aquilo com alegria, não dava pra discutir. Estavam realmente felizes em ajudar. Me levaram até o quarto – Andrea carregando minha mala. E só me deixaram quando eu estava instalado. Foi fantástico!!! Deram-me um abraço de feliz aniversário e fiquei muito feliz.

Dormi como um bebe. Sequer troquei de roupa. Do jeito que sentei na cama, caí pro lado e dormi – uma das noites mais tranquilas da minha viagem. No dia seguinte, mandaram-me mensagens de feliz aniversário, perguntaram como fora minha noite e me desejaram uma boa viagem para Firenze (Florença). Não puderam me encontrar, pois estavam trabalhando naquela sexta-feira de manhã.

Me arrependo de não ter tirado uma foto com eles. Espero que tenhamos outra oportunidade. De alguma maneira, acho que teremos.

Diário de Viagem 2009 – Bella Dona

Estou surpreso com a beleza do povo italiano. Descobri porque minhas irmãs são assim: as italianas são muito bonitas. Não, não vou falar dos homens. Por princípio, não acho homens bonitos. No máximo, fazem “tipo”. Mas fiqei decepcionado. Hoje pela manhã, andando pela aveniza Nazionale, notei que duas moças em uma Vespa me olhavam. Por uma fração de segundos, me senti “o cara”: uau! Fazendo sucesso na Europa! Mas durou apenas uma fração de segundos. Logo elas mudaram o olhar e, curioso, olhei também: passava um italiano por mim naquele exato momento.  Também, nem dei bola. Até a moça pedindo dinheiro no metrô – com o mesmo tom monótono que ouvimos em São Paulo – era una ragazza con un picolo bambino, mas piu bella.

Não sei se é o sotaque italiano (que gosto muito). Talvez a minha atitude mais positiva em relação à cidade. Mas particularmente acredito que tenha a ver com postura. Sempre disse que uma mulher não precisa necessariamente “ser” bonita, mas ela tem que acreditar que é bonita. Isso muda a forma dela andar, de falar, de se vestir, de olhar. E é isso que torna uma mulher – de fato – interessante.

Mulheres bonitas são facilmente produzidas no Photoshop. Mulheres atraentes nascem de dentro. Isso não sai em fotos.